Thursday, December 3, 2009

A importância da dança na vida das crianças.








Na última terça-feira eu tive a oportunidade de visitar os alunos do projeto social Luminando, que é um projeto social realizado pela Lúmini Companhia de Dança, que oferece aulas gratuitas de dança, capoeira, acrobacia entre outras atividades para crianças de várias comunidades que não têm recursos para pagar as aulas em outras escolas.

A minha idéia inicial era fotografar as crianças e fazer uma pequena entrevista com elas sobre o que mudou em suas vidas depois que tiveram contato com a dança. Para ser sincera eu não esperava que as respostas fossem me emocionar tanto. Eu tive a chance de crescer dentro da escola de dança da minha família e eu sinto que como já fazia parte da minha história eu nunca dei o valor devido às oportunidades que eu tive. Uma das perguntas que mais me marcaram foi o que a dança significava na vida deles e o que mudou desde que eles entraram em contato com o projeto.

A primeira criança a ser entrevistada foi Milena Sampaio da Silva, 9 anos, que disse que quando dança se sente livre e que parece que não existe nada de mal ao seu redor. O aluno Jefferson de Souza Lima, 14 anos , relatou que uma das coisas que mais mudou foi o seu aprendizado, ele disse que consegue se concentrar melhor e consequentemente seu rendimento escolar melhorou muito. Sua irmã Jaqueline de Souza Lima de 11 anos disse que a dança a fez ficar mais calma e sensível sentindo suas emoções muito mais aguçadas. Duas crianças que chamaram bastante a minha atenção foram Diogo Silva Lopes e Jad Santos de Novaes, ambos 9 anos de idade e com sorrisos que eu não vou esquecer tão cedo. Os dois transbordavam felicidade falando do projeto e o quanto ficavam felizes de sair de casa a caminho da sede da Lúmini Espaço Art para suas aulas de dança. Conversando com Thamires Pires Gonçalves de 12 anos eu pude perceber que a timidez era uma grande barreira para ela e durante nossa conversa ela foi se abrindo e disse que com a dança ela se libertou um pouco de sua timidez e vê na dança uma oportunidade de uma vida melhor. O projeto na vida de Jefferson Vieira Santos de 15 anos fez com que ele perdesse o preconceito contra bailarinos do sexo masculino, diz ele que antes do projeto ele relacionava bailarinos com homossexualismo. Entre todos os alunos que eu entrevistei a única que não teve um melhor rendimento escolar depois do projeto foi a aluna Joyce Kelli de Oliveira Acahú de 14 anos. O caso dela é um pouco mais delicado, ela diz que sua comunidade é muito perigosa à noite e que depende da companhia de suas amigas para voltarpara casa e com isso fica presa em lugares a espera de alguém que possa acompanhá-la. Rosiane Sampaio Monteiro de 15 anos está no projeto desde que começou e que se sente nas nuvens dançando e que tem planos de fazer Faculdade de Dança. Os três alunos que mais me marcaram e que eu tive que conter minhas lágrimas durante a entrevista foram Monik Ferreira da Silva, Taciane de Oliveira Sousa e Emanuel dos Santos Silva. Foram emoções diferentes e eu pude não só ouvir mas sentir a influência da arte na vida deles. Monik de apenas 15 anos demonstrou maturidade em cada uma de suas respostas, ela disse que suas palavras não seriam o suficiente para demonstrar o quanto ela é grata pelas oportunidades a ela oferecidas, a dança é tudo em sua vida e que se sente um pássaro voando sem rumo em suas apresentações. Monik tem planos de abrir uma escola no futuro e que a arte sempre estará presente na sua vida. Taciane de 16 anos estava bastante nervosa durante a entrevista e aos poucos foi me contando sobre seu passado triste e que a dança a libertou das lembranças que a assombravam e cada vez que dança é como estivesse desabafando todas as suas aflições. Ela relatou que tremia e não falava com ninguém sem a presença da mãe. Taciane deixou bem claro que apenas superou tudo e só consegue se relacionar melhor com as pessoas graças aos projetos da Lúmini Espaço Art e que a convivência entre seus familiares melhorou muito e com o projeto não só ela esta mais feliz, mas sua família também. Emanuel de 17 anos é um menino muito doce e foi um grande prazer conhecê-lo melhor. Ele diz que a dança o ensinou a andar de cabeça erguida e lembrá-lo de que ele é um vitorioso. Emanuel me disse que sua família não o apóia para seguir dançando ou em outras artes que ele está envolvido, mas ele deixou bem claro que sem a dança na sua vida ele não seria o Emanuel.

A maioria das crianças foram unânimes em dizer que suas notas melhoraram na escola, emagreceram, se sentem mais saudáveis, que quando dançam entram no mundo que e só deles e que esquecem de tudo de ruim que existe a sua volta. Eu acredito que não há propaganda melhor para um projeto do que conversar com essas crianças, ver o que mudou no cotidiano de cada um deles e o que a arte em geral significa na vida deles. Cada sofrimento, cada experiência ruim eles usam a dança para viver uma realidade melhor e substituir as experiências ruins pelas as boas que eles vivenciam dentro do projeto.

Para mim foi muito gratificante a tarde que eu passei com eles e eu senti que eu aprendi um pouco mais sobre a minha própria vida. Eu sempre acreditei que a arte é essencial na vida de uma pessoa, a arte é uma maneira de você viver melhor a sua realidade ou fugir para um mundo melhor criado por você mesmo. Eu fico feliz que existam pessoas como a minha mãe, Eliana Spinelli que é a professora de dança do projeto, como a Camila Khayat que é umas das coordenadoras do projeto e que eu a vejo como uma irmã mais velha de cada uma dessas crianças e como o Sergio Machado que é o diretor geral da Lúmini Companhia de Dança e o fundador do projeto.

Num país como o Brasil com uma cultura tão rica e com artistas maravilhosos é triste de saber que apenas poucas pessoas tenham acesso a oficinas de arte. A arte mudou a minha vida e eu tenho certeza que a de muitas pessoas ao meu redor também, e sempre que eu puder, nem que seja por essa página, divulgar o trabalho realizado por esses artistas e tantos outros eu o farei.